Marrocos 2009

Dia 23-04-09
Porto – Elvas – Algeciras
Eram 07h38 da manhã, abri a porta da garagem, o sol brilhava. As previsões apontavam para um dia quente, prometendo o tempo ideal para a longa jornada de ligação a Algeciras. O ponto de encontro era nas instalações de Antero & Filhos, organizador desta 1ª Expedição Marrocos. Como o briefing já havia sido realizado uns dias antes no restaurante do Pinto, um dos participantes, saímos logo depois das 08h00 após a foto da praxe. Seguimos pela A1, IP6 e IP2 até perto de Elvas onde paramos para almoçar no Restaurante Pompílio. Escolhemos umas especialidades alentejanas variadas para podermos partilhar e degustar entre todos. Entretanto saio mais cedo para ir a Elvas abastecer no posto Galp e esperar pelos restantes. Eram 14h08 da tarde e a caravana não passava. Recebo uma chamada do Manuel Soares dizendo que aproveitaram o acesso que havia antes de Elvas e seguiriam devagar aguardando que me juntasse ao grupo. Arranquei em direcção a Badajoz e ao fim de uns 3 km achei melhor voltar para trás e seguir pela mesma entrada na auto-estrada não fosse estarem à minha espera algures. Como perdi algum tempo não consegui alcançar a caravana durante uns bons quilómetros tendo optado por moderar a velocidade e ir seguindo até nos encontrarmos algures no trajecto marcado no GPS. E assim fui seguindo, sozinho, espreitando nas áreas de serviço na expectativa de ver a caravana mas sem sucesso. Passei Sevilha com bastante movimento e 31ºC de temperatura. Fiz pausa para beber agua, compensar a desidratação e fumar um cigarro, chegando solitariamente a Algeciras, ao Hotel Meson de Sancho pelas 19h30. A caravana tinha chegado com uns 15 minutos de avanço. Por meia dúzia de euros optamos por guardar as motos na garagem, não fosse o amigo do alheio aparecer. Repousamos um pouco antes do jantar, afinal tínhamos rolado 860km, praticamente em auto-estrada, sob forte calor, desgastando fisicamente logo no 1º dia. Jantamos no hotel e arrastamos a conversa pela noite dentro recolhendo em boa hora para descansar. A verdadeira expedição começaria no dia seguinte.



Dia 24-04-09
Algeciras – Chefchaouen – Ouezzane – Fez
Tomamos rapidamente o pequeno-almoço pelas 08h15, arrancando para Tarifa para tentar apanha o ferry das 09h00. Momento de stress com a compra de bilhetes mesmo em cima da hora, cumprimento de formalidades e amarração das motos pois o ferry da FRS estava prestes a zarpar. A bordo carimbamos o passaporte com a entrada em Marrocos e à chegada a Tanger foi praticamente tratar da importação temporária das motos. Com ajuda dos agentes locais e uns euros pelo meio resolveu-se rapidamente a questão. Pausa para levantar dirhams e tomar um café marroquino enquanto os colegas que entram pela primeira vez neste pais observam já alguns pormenores do quotidiano deste povo. Fazemo-nos à estrada por Tetouan até Chefchaouen. “Alojamo-nos” no Hotel Atlas Chaouen só para apreciar a vista e tirar fotos desta bonita cidade azul. Conhecemos o concierge pintor que nutre grande simpatia por Portugal, o qual recorda com saudade a sua participação na Feira Árabe em Mértola. Observando bem as suas obras, ficamos com a sensação que este homem está no lugar errado. Almoçamos no típico Restaurante Paloma e recusamos uma série de convites para comprar “chocolate”. Este é o local ideal para quem quiser experimentar haxixe cujo cultivo é autorizado mas só para consumo local. O calor apertava, o mostrador marcava 32ºC, mas tínhamos de continuar viagem para Ouezzane, deliciando-nos com as belas paisagens até chegarmos a Fez. Seriam umas 20h15, paramos à entrada da cidade para abastecer quando nos apercebemos que o Rei estava na cidade para a abertura do Open de Ténis. Bem instalados no Hotel Zalagh Park Palace, jantamos condignamente na elegante sala, experimentamos um bom vinho marroquino e terminamos no bar à conversa entre copos de chá de menta.




Dia 25-04-09
Fez
Como nos tínhamos deitado cedo, apresentamo-nos também cedo para desfrutar tranquilamente um bom pequeno-almoço. Depois foi só esperar por Abdul, que seria o nosso guia na visita a Fez. Esta cidade é considerada a 3ª maior do Marrocos sendo também a capital espiritual e religiosa do pais. Em Fès el-Jedid visitamos exteriormente o Palácio Dar el-Makhzen, que funciona como residência do Rei sempre que este visita a cidade. Visitamos uma fábrica de mosaicos – mesas, fontanários, pinturas – ficando deliciados com a perícia e paciência daqueles artesões. Expostos à parafernália de turistas que invadem o seu espaço, trabalham com dedicação e saber colocando estes produtos em várias partes do mundo. Já em Fès el-Bali entramos na famosa Medina iniciando um périplo pelas suas ruas labirínticas. Esta Medina, a mais antiga, tem cerca de 9500 ruas, com mais de 600 km, estimando-se albergar perto de 350.000 pessoas. De visita a uma tinturaria tomamos consciência das condições precárias de trabalho destes artesões, vivendo entre tanques, peles, lãs e o amoníaco extraído do excremento de pombo (este adicionado à cal ajuda a suavizar as peles de cabra, carneiro e camelo). Os fortes cheiros fortes que se entranharam não fizeram perder o apetite e assim fizemos uma pausa para almoçar no Restaurante Dar Salma, inserido numa riad remodelada mas mantendo a traça antiga. O anho estava mal confeccionado para o meu gosto pois apresentava-se meio cru, as ameixas e as entradas variadas salvaram a refeição juntamente com a sobremesa de frutas com canela. Mais uma visita, desta vez a uma casa de vestuário mas ninguém se sentiu seduzido por jellabas, gandouras ou lenços. Como regressamos ao hotel ainda cedo, ocorreu a ideia de passear a pé pelo centro Fez. Apanhamos dois petit-taxis e lá seguimos dando boleia a uma rapariga alemã que não tinha visto tudo na Medina nessa manhã e queria lá voltar sozinha. Tentei dissuadi-la, sem sucesso, pois não era aconselhável andar por lá sozinha sobretudo ao entardecer. O nosso motorista ficou bloqueado no trânsito, pedimos-lhe que não perdesse o táxi da frente. Sorridente mostrou-nos o cartão de condutor de ambulâncias e lá seguiu em perseguição do colega taxista. Passeamos tranquilamente pela Avenida Hassan II, tomamos um chá de menta numa moderna esplanada e regressamos ao hotel para jantar. Depois de um requintado jantar buffet, terminamos à noite no bar na companhia de mais uns chás de menta recolhendo ao quarto antes da meia-noite. À noite não vimos a alemã no hotel, será que regressou da Medina?




Dia 26-04-09
Fez – Ifrane – Midelt – Er-Rachidia – Erfoud
Largamos cedo o Zalagh Park Palace, o tempo estava cinzento, ventoso e ameaçava chover. Confiamos na sorte e ao chegar a Ifrane já estávamos todos molhados. Paramos para tomar um café, aquecer um pouco e vestir os fatos de chuva. O Manuel Soares fez um telefonema e ficamos todos mais descansados ao saber que em Erfoud está um sol quente. Pelo aspecto exterior ainda teríamos muita chuva pela frente e assim lá prosseguimos a custo. À medida que subíamos, a temperatura descia e a 2.195 metros de altitude atingiu-se o mínimo de 0,5ºC. Vento frio e pequenos flocos de neve apanharam-nos de surpresa, as viseiras dos capacetes começavam a ficar cobertas de gelo dificultando a visão. Os campos estavam cobertos de neve mas a estrada estava transitável. A caravana não se dava por vencida e continuava em ritmo lento mas cauteloso. À medida que íamos descendo o sol começava a livrar-se da nuvens mas o vento mantinha-se bem forte. A temperatura aumentara para os 19ºC. À entrada de Midelt alguém prontamente nos indicou um restaurante. Molhados e com frio lá nos fomos acomodando, uns mudaram de roupa, outros tentaram secar a que tinham e pouco depois já estávamos às voltas com saladas marroquinas, brochettes, carne de borrego e legumes cozidos. Aparece o Rachid, que eu tinha conhecido o ano passado e convida-nos ir à sua loja tomar um chá e obviamente tentar vender uns tapetes. Recompostos com a agradável refeição, lá fomos à “La Maison Berbere” assistir ao desfile de tapetes e carpetes. Todos acabam por fazer negócio com tapetes, punhais e babouches. Eu recebo um turbante preto como agradecimento. A viagem até Er-Rachidia decorre a bom ritmo com a temperatura a subir agradavelmente. A partir daqui a paisagem muda, torna-se mais aberta, existe um grande palmeiral que nos vai acompanhando praticamente até à vila de Aoufouss. Aproveito para tirar umas fotos pelo caminho e distribuir canetas pelas crianças que aparecem na estrada ao ver as motos paradas. Chegamos a Maadid o mostrador indicava 23ºC, o Kasbah Xaluca Maadid acolhedor como sempre recebe-nos com dança e folclore. Instalamo-nos principescamente nos aposentos tipicamente decorados e logo de seguida aproveitamos a recente e requintada piscina interior para nadar e relaxar no jacuzzi. Este recente espaço acrescenta ainda mais valor, tornando o Xaluca num verdadeiro oásis no meio do deserto. A longa jornada termina com um saboroso e variado jantar buffet. Como a noite estava fria tomamos café e chá no bar interior mas o espaço estava demasiado abafado, recolhemos ao quarto pouco depois.








Dia 27-04-09
Erfoud
Pela manhã, dois Land Cruiser aguardavam-nos na entrada do Xaluca. Deixamos as 2 rodas à sombra e arrancamos em 4x4. Poucos quilómetros à frente saímos da estrada seguindo uma das pistas usadas no Paris-Dakar. Hassan, o nosso “piloto” explicava que haviam várias pistas e muita animação durante a passagem da caravana. Estava convencido que esta prova voltaria a Marrocos. Olhando para a dureza do terreno temos de reconhecer a capacidade de esforço e resistência dos pilotos. Paramos numa haima – tenda de uma família nómada – tomamos um chá e deixamos uma lembrança considerável para a família. Visitamos uma casa de fósseis que é sempre motivo de interesse sobretudo se tivermos em consideração que há milhares de anos, o mar havia banhado estas terras áridas. Rolamos durante toda a manhã por pistas, estivemos a poucos quilómetros da fronteira argelina, apreciamos paisagens fantásticas e paramos para almoçar num espaço criado pelo hotel. As condições estavam por excesso, desajustadas da realidade e por isso almoçamos confortavelmente antes de prosseguimos em direcção ao Erg Chebbi. Desta vez os nossos “pilotos” meterem-se pelas dunas oferecendo um pouco de adrenalina. Largamos os 4x4 e passamos para camelos que nos iriam levar até ao bivouac onde passaríamos a noite. Como chegamos ao entardecer, não restava muito tempo para subir ao topo da duna para observar o pôr do sol. Parecia fácil visto cá de baixo mas só à medida que subimos nos apercebemos da sua enorme dimensão, tornando-se bem penosa. A paisagem vista do alto compensava o esforço dispendido pena que estivesse vento tornando a linha do horizonte algo encoberta. A areia e vento são implacáveis, as maquinas não resistiram e começaram a encravar. Mesmo assim registou-se o momento. De volta ao bivouac, instalamo-nos tal qual berberes sem mordomias, quarto privado ou banho. Os funcionários do Xaluca improvisaram umas danças até à hora do jantar. Este foi servido no interior de uma grande tenda, em ambiente escuro iluminado à luz da vela. Estariam cerca de 50 pessoas. Como o nosso grupo estava com fome fomos mais reivindicativos e acabamos por ter dose reforçada. E que bem que soube! O resto da noite foi passado sob um bonito céu estrelado, à conversa sobre futuras viagens de moto. Havia gente que cantava à volta da fogueira enquanto outros recolhiam ao interior das tendas para dormir. Ainda houve quem dormisse ao relento por razões que só mais tarde viemos a descobrir.





Dia 28-04-09
Erfoud – Rissani – Erfoud
Amanhece no deserto como num qualquer parque de campismo, com a azafama das pessoas que preparam sempre qualquer coisa. Nós preparamos o regresso de camelo. Durante cerca de uma hora galgamos pachorrentamente as dunas contemplando a magnifica paisagem desértica a perder de vista. Chegados ao Kasbah Xaluca Tombouctou tomamos um frugal pequeno almoço e regressamos de 4x4 ao Xaluca Maadid, na companhia dos nossos pilotos, desfrutando do prazer da condução pelas pistas até Erfoud com os Land Cruiser a seguirem paralelamente deixando nuvens de poeira atrás de si. De tarde fui até Rissani com o Miguel Amaral. Embora estivesse quente, esta estrada ao longo do Palmar de Tafilalt é muito agradável de percorrer. Os habitantes desta região dependem da produção das tamareiras que se estendem pelo oásis. Rissani assinala o fim da estrada alcatroada. A partir daqui até ao Erg Chebbi, de onde havíamos regressado esta manhã, o caminho é empedrado dando origem depois aos vários trilhos para o deserto ou de ligação aos vários hotéis. Depois de fotografar as fotogénicas portas de Rissani voltamos a Erfoud. Ficamos a relaxar na esplanada de um café e a apreciar o movimento ao entardecer. Os passeios parecem ser só para enfeitar, as pessoas dividem a rua com as carroças, as bicicletas e as viaturas entre si, mas a lição que retiramos é que ninguém parece incomodar-se e todos sabem entender-se em perfeita harmonia.





Dia 29-04-09
Erfoud – Gorges Du Todra – Boumalne Dadès
Como só tínhamos pela frente cerca de 190Km até Boumalne Dadès, saímos do hotel por volta das 09h30, já a temperatura subia prometendo um jornada quente. Paramos no posto de abastecimento ZIZ em Erfoud para colar o autocolante desta 1ª Expedição Antero para deixar registo da nossa passagem. A estrada até a Tinerhir vai-nos presenteando com extensas paisagens a perder de vista e atravessa várias povoações típicas cujas casas são invariavelmente pintadas de rosa e verde deslavados. Desviamos para uma visita rápida a Gorges Du Todra, local fantástico formado por um desfiladeiro encravado entre enormes escarpas com 300 metros de altura. Almoçamos na esplanada do Hotel Yasmina, excepto o Miguel ficou a chã. Para não variar foram mais umas saladas marroquinas, brochettes mistas, que estavam deliciosas e a habitual fruta. O calor convidava à preguiça, ficamos assistir ao movimento que passava nesta estreita estrada: excursões de turistas, ciclistas em btt, veículos 4x4 e motards, todos atraídos pela beleza e potencialidades que a estrada daqui para a frente pode proporcionar aos amantes do todo o terreno. A estrada que devia ser transitável, sofre com as chuvas e deixa de o ser. Até Boumalne Dadès foi um instante o que nos permitiu desfrutar as instalações do novo Xaluca Dades. O jacuzzi exterior vinha mesmo a calhar. Lá ficamos longamente à conversa enquanto apanhamos um bronze na cara e desfrutamos a paisagem sobre a cidade. Tranquilamente chegamos à hora de jantar. O salão era um dos mais elegantes que já tínhamos experimentado e a variedade gastronómica era apelativa mas o nosso sistema intestinal andava um pouco agastado e fomos todos prudentes. Como a noite arrefeceu, ficamos no bar à volta do incontornável chá de menta até á hora de recolher.





Dia 30-04-09
Boumalne Dadès – Ait Ben Haddou – Marrakech
Deixamos o hotel bem cedo para aproveitar a frescura da manhã, seguindo direcção a Ouarzazate. Breve paragem para um cafezinho matinal. Fundada pelos Franceses, esta moderna cidade, com aeroporto internacional e boas infra-estruturas hoteleiras é hoje um ponto estratégico para o turismo. Há alguns anos converteu-se num centro de industria cinematográfica, existindo dois grandes estúdios para além de ter em Ait Ben Haddou cenários naturais para filmes como “O Gladiador”. E foi para lá que seguimos viagem. As motos ficaram à entrada do Hotel Restaurante L'Oásis d'Or e nós seguimos a pé visitar a velha fortificação, património mundial da UNESCO, onde hoje não vivem mais do que 2 famílias. Soubemos que já haviam habitações remodeladas para receber turistas. Esperemos que saibam preservar o património e não o transformem num grande hotel para turismo rico. Visitamos a antiga casa de Hamadi El Hoccine, sempre orgulhoso do seu papel de figurante n' "O Gladiador", e convida-nos para tomar um chá enquanto nos fala dos seus feitos cinematográficos. Deixamos alguma roupa e medicamentos para a família. Estava muito calor, soube bem a pausa para almoço no restaurante L'Oásis d'Or. Estávamos tranquilamente sozinhos até chegar uma multidão de turistas que apressou a nossa saída. Embora estivesse bem quente, iríamos refrescar a atravessar o atlas e aproveitar para desfrutar as curvas angulosas que o atravessam. Em Tizi-N-Tichka, a 2260 metros de altitude, estava um vento desagradável que não impediu, no entanto, de tirarmos a foto da praxe. A descida, embora perigosa devido às ditas curvas angulosas, com trânsito lento e o piso algo deteriorado, acaba por saber melhor pois a temperatura vai subindo progressivamente e a paisagem vai dando lugar ao verde montanhoso. Chegamos a Marrakech pelo final da tarde, o calor não dava tréguas e o trânsito muito menos. Não se trata daquele transito ordeiro e pachorrento que conhecemos. Aqui salva-se quem puder! O conceito de prioridade simplesmente não existe e além de ignorarem completamente que circulamos carregados, disputam os espaços como se conduzíssemos umas simples motocicletas. Chega para colocar os nervos em franja. Finalmente chegamos ao elegante Hotel Kenzi Farah recuperando rapidamente a estima perdida no meio do trânsito. Além de enorme, este hotel dispõe de várias facilidades como piscinas, sauna, massagens, ginásio, jardim revelando-se assim um autentico oásis no centro da cidade. Depois de jantar, alguém teve a ideia peregrina de ir a pé até à Praça Jemaa el-Fna. Pelo mapa era perto mas as obras junto ao Casino obrigaram a fazer um desvio imprevisto. É fantástico o ambiente desta praça sobretudo quando circulamos por entre as dezenas de tasquinhas fumegantes, com os aromas das especiarias ou cheiro da carne grelhada no ar. Aqui nada se oferece, tudo se faz a troco de dinheiro, tentamos circular discretamente. Havia muita gente a ouvir os músicos ou comediantes mas todos sabem que pedir dinheiro só mesmo aos turistas. Tomamos um super doce chá de menta, passeamos um pouco, negociamos um grand-taxi e regressamos ao hotel.







Dia 01-05-09
Marrakech
Dia dedicado ao lazer. Alugamos uma caleche, para um passeio pela cidade. Visitamos o Jardin Majorelle, adquirido pelo falecido Yves Saint Laurent e Pierre Bergé ao pintor francês Jacques Majorelle. Tem centenas de flores exóticas, palmeiras e cactos. Passamos por um enorme centro comercial de artesanato para comprar as ultimas recordações. Os preços estão tabelados ninguém negoceia o valor final. Depois de uma passagem pelo exterior do palácio real, onde fotografar era interdito, regressamos ao hotel. Aqui o grupo divide-se, uns preferem ficar no hotel para relaxar, outros seguir para o buliço da frenética Praça Jemaa el-Fna que outrora foi palco de decapitação dos condenados e hoje é um ex-líbris da cidade. Almoçamos num restaurante da praça, onde se misturava o chique e o remediado, o trabalhador e o turista. Aventuramo-nos na labiríntica Medina de Marrakech, deambulando sem rumo, acabando por gastar mais uns quantos dirhams em souvenirs. Da varanda do Restaurant Argana pudemos assistir ao final da tarde, à montagem das tasquinhas num ritual que se repete incansavelmente dia após dia e termina invariavelmente com a desmontagem noite após noite. Cometo o 2º pecado e bebo um 2º sumo de laranja antes de abandonarmos a praça. É irresistível. Aqui voltamos a separar-nos, o Pinto e a Ana regressam ao hotel, eu e o Miguel ficamos no Café La Koutoubia apreciar a movimentação de toda aquela massa humana que parece estar sempre apressada para chegar algum lado. Dois táxis acabam por chocar, os motoristas discutem, os transeuntes tomam partido, o trânsito complica até que um policia chega e começa a fazer uns riscos no chão. Sem mais formalismos, ambos os taxistas preferem meter-se nos seus carros e desaparecer discretamente. Anoitece, negociamos um petit-taxi mas o motorista estava difícil e persistente até que acabamos por ceder. Como o tempo é dinheiro, não havia fila ou espaço que resistisse a este tipo tresloucado e perigoso para os utentes. Ainda nos interrogamos se não estaria a treinar para o WTCC que teria lugar na cidade nos próximos dias?
Depois do jantar procuramos um local aprazível para beber uma cerveja e acabamos num danceteria onde alguns homens dançavam sozinhos na pista enquanto outros, sentados à mesa, batiam palmas freneticamente. A camada feminina estava em minoria e em nada melhorava o ambiente.




Dia 02-05-09
Marrakech – Kénitra – Tanger
Inicio do regresso a casa. Optamos pela auto-estrada para ganhar tempo pois tínhamos 600 Km pela frente. Bom piso e talvez por ser sábado tinha pouco movimento. Avistamos ao longe Casablanca e Rabat mas só saímos em Kénitra para almoçar junto à praia. Entre vários restaurantes instalamo-nos no primeiro que estava vazio e os artigos no expositor a deixar duvidas. Acabamos por ficar comer um peixe frito fresquinho e sair com o restaurante praticamente cheio. Durante toda a tarde fomos fustigados por calor e vento forte, sobretudo ao final da tarde, quando circulávamos pela estrada costeira entre Larache e Tanger. O vento estava de tal forma forte que rolávamos com forte inclinação e forçando mesmo a moto a manter-se em linha recta. À chegada ao Hotel Ibis questionamos a hipótese de fazermos a travessia para Algeciras e ganhar umas horas para no dia seguinte passarmos Jerez de la Frontera antes de terminar o GP de Espanha. Facilmente saímos do hotel e chegamos à área portuária. Enquanto o nosso Tourleader tratava das formalidades aduaneiras de saída, reflectíamos sobre as condições do tempo na hora da despedida pois o vento estava demasiado desagradável e a temperatura arrefecera entretanto. O mar também se ressentia e não havia condições para o ferry rápido da FRS atravessar, teríamos portanto de viajar com outra companhia. Alguém nos indica o cais, depois vem outro alguém e manda-nos para outro cais onde o suposto ferry estava já atracado. Às vezes é assim confiamos nas pessoas! Aguentamos 1 hora que o vai e vem de camiões acabasse de descarregar os contentores todos e quando finalmente nos preparamos para embarcar com as motos dizem-nos que os bilhetes não são válidos para este ferry. Contactado o balcão da agência confirmam-nos que os bilhetes não eram válidos para o que se preparava para sair mas para o outro que acabara de chegar. Mal podíamos acreditar que teríamos de esperar outra eternidade até descarregar e podermos finalmente entrar. O tempo a passar, o vento a fustigar e o jantar que nos aguardava no Meson de Sancho a arrefecer. Com estas condições de mar teríamos 3 horas de travessia pelas palavras amargas do oficial de bordo. Toda a gente se preparava para dormir, nem acreditávamos que iríamos passar parte da noite a bordo. Assim aconteceu e com o embalo do navio ainda deu para passar pelas brasas. Acordo, venho ao porão ver as motos. Estavam bem seguras e aguentavam a ondulação sem problemas. O ambiente silencioso era entrecortado pelo ranger do navio e das suspensões dos carros que também oscilavam em sincronia com o sobe e desce do navio. Desembarcamos pelas 04H00 da madrugada e ainda tivemos de aguentar a birra do autoritário policia espanhol por termos passado os carros à frente. Tínhamos chegado à civilização... A custo chegamos ao hotel, devoramos as sandes de queijo e presunto que gentilmente nos tinham preparado pois tinham sido informados que já não chegaríamos a tempo do jantar.
Enfim, não era este o desfecho que pretendíamos mas viajar é também saber aceitar o que não pudemos controlar, é saber ajustar a rota de feição com os ventos.

Dia 03-05-09
Algeciras – Elvas – Porto
Ainda me sentia a navegar já o telemóvel despertava. Não havia tempo a perder. Tínhamos 870 Km a percorrer e pressa em passar Jerez de la Frontera antes de centenas de motards ávidos de estrada e de velocidade se metessem no nosso caminho. A bom ritmo lá nos adiantamos seguindo direcção de Elvas para regressarmos ao Restaurante Pompílio e matar saudades da cozinha alentejana. A satisfação do regresso era evidente, culminando na perfeição, com o retorno ao ponto de partida, desta vez para as despedidas do grupo. Apesar de não se conhecer à partida, o grupo, funcionou muito bem em conjunto, ficando já no ar algumas ideias para a próxima expedição.